sábado, 3 de maio de 2008

Da Existência das Rolas Moles.

Perfeição, meus anjos. Absoluta e inconteste perfeição de maleabilidade estarrecedora e estética imaculada. Absoluta assepsia, o não contato com o outro. Um retrato flácido e desafiador, ofensivo para alguns, confortabilíssimo para outros. A preguiça, o substantivo que é, em sexo, abstrato. Para que construir colunas, trampolins, andaimes, pontes ou escorregadores? O cimento de tais agressões arquitetônicas se desgasta com a repetição e com a interação com o outro, enquanto o elástico se torce de acordo com cada força que tenta lhe obliterar. A cabeça que aparenta estar erguida e atenta é, em verdade, um poço de obediência muda. A que parece estar apática e retraída, por sua vez, grita pela chance da ausência das obviedades e da possibilidade de opções. Assim era Ghandi e assim é a Glande, ao menos quando ela não está em seu falso estado de glória.

É comum denegrir o que ostenta tal estado, e julgar-me-ão, de certo, por minha escolha pelo verbo ostentar. “Como se ostenta a vergonha, ó tolo e preguiçoso? Explica por que se orgulhar de um rascunho, se a obra completa se faz tão bela?”, perguntam alguns. Minha resposta é simples e clara; aquele que reverencia a obra deve venerar a matéria-prima, pois é ela que é a perscrutadora das chances e das formas fugazes. Quisesse eu me tornar mais loquaz – e acredito que devo fazê-lo – diria que a obra admirada é fruto de sangue e de esforço por demais custosos ao que porta o falo, sendo vário o fruto de uma tarefa constantemente árdua e efêmera. A subjetividade da escolha do outro pode por abaixo um sacrifício tão certo. Ademais, a dureza da construção não passa de um truque ilusório, visto que ela se desfaz depois do uso. Caso o operário falhe em sua lida, o deboche é sua recompensa certa, sendo o motivo para tal algo que ele meramente empresta para o outro. Numa metonímia vil, o todo do Ser é infamado pela suposta tentativa frustrada de uma manifestação de parte de si mesmo, tendo os caprichos de uma voz exterior como a déspota juíza. Percebam, ó ovelhas e bois, o malefício da ereção.

Pela imponência fanfarrona, alguns assumem como “real” a condição do pênis ereto, enquanto o repouso é apenas uma versão quase inútil e passageira que nada tem a oferecer. É uma visão equivocada; o repouso é pleno, múltiplo e quase perpétuo, e a dureza é a aflição, a contaminação, a serventia a tudo que é perene e nocivo. Para muitos pode parecer uma bravata, mas para mim é apenas natural declarar que o sexo do macho deve quedar em constante dormência para atingir seu potencial máximo, seja ele estético ou funcional. É aí que reside a naturalidade e a limpeza! A beleza do estado primordial livre de obrigações e pesos, que se move em harmonia com o resto do corpo. O farfalhar das folhas de árvores lembra o movimento tão puro e solto daquele que se permite vivenciar o ócio. Sentem as folhas algum tipo de vergonha? Por Deus, não! O arcaico reinado da Rola Dura há de cair assim como o tronco mais poderoso cai, mas as folhas não irão tombar. Não! Elas irão dançar com o vento e assobiar suas melodias de liberdade! A cada amarra caída, uma falsa raiz de obrigação pecaminosa e abjeta há de ser arrancada abruptamente, e a nudez relaxada poderá ser contemplada e digna de merecido respeito! Lo! Sou Lucas Terra, e hei de hastear minha bandeira com um mastro metafórico!

Um comentário:

Dário disse...

Isso é uma das coisas mais lindas que eu já li... Eu não tenho a manha de texto, mas acho que o último parágrafo entrou com tom de explicação demais, acho q quebrou um pouco a vibe poética do texto... O q pode ter sido sua intenção...