sábado, 3 de maio de 2008

Jojó e Marieva.

Como o bom glutão que era, Jójó consumiu cada parte da sua parceira por inteiro: o mar, o chão, o céu e até mesmo suas poucas idéias imbecis. Não era apetite pelo outro; o aspecto magérrimo do rapaz tornava tal hipótese impossível. A bem verdade é que ele já havia achado o mar indigesto, o chão nauseante e o céu asqueroso. As idéias quase o fizeram vomitar, mas ele as encarou como uma porção de azeitonas: pequenas e ruins. Regurgitar seria uma reação exagerada e/ou pouco digna de sua obsessão; se havia chegado até ali, que digerisse tudo, não é isso?

Em casa, tiraram as roupas. Primeiro ela, depois ele. Decepção mútua, mas é claro que seria isso. Que linhas patéticas e mal-formadas os dois corpos exibiam! As expressões, então, eram ainda mais débeis! Na troca de olhares, havia a raiva dela e o ódio dele - e que ódio! Esperava ao menos uma mulher atraente, mas não! Tratava-se de uma carcaça à procura de um abutre. Fastiado pela visão, ele quase recusou o alimento, mas a glutonice era tanta que acabou por renegar seu julgamento e devorar o que restava dela.

Marieva - que até agora só tinha nome no título - observou o seu predador, agora combalido. Falou umas bobagens que o fizeram rir, a despeito do asco. Conversaram um pouco mais sobre qualquer coisa, mais alguns sorrisos, uma opinião saía da boca dela, ele escutava. Ele chegou a concordar uma vez ou outra, ela não quis lavar o cheiro do corpo. Ele não sentia mais a gana de consumir, ela já não parecia indigesta. Quer saber? Marieva nem era tão ruim.

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