Podre. Um quarto podre, maculado por quaisquer tipos de líquidos ou dejetos que podem ou não existir. No teto, bonecos dependurados por fios invisíveis esbanjam largos sorrisos e gotejam sangue por seus poros. As paredes estão cobertas por gravuras barrocas. Há no chão um imenso espelho que reflete algo senão o que de fato se vê.
UM CENÁRIO ONÍRICO! - Eu berro.
De fato, era mesmo um cenário deveras onírico. Minha conclusão óbvia me encheu de soberba e pompa, e desfilei como se fosse um rei francês cheio de afetos e acostumado com mimos, portando meu cetro de papel e exibindo minha coroa de mágoas veladas.
Os bonecos deram um veredicto peremptório:
-Farsante!
Sentir-me-ia ofendido, mas meu circunlóquio me parecia por demais cativante para considerar a vã reclamação da turba supliciada na forca. Eu falava, falava e falava um pouco mais, e era alta a minha voz. Minha boca ficou morna e minha língua sentiu o gosto de leite. Era materno, e saía da generosa teta da presunção. Quedei em posição fetal e beijei meu próprio rosto no espelho. Ó, elogio a si mesmo! Ó, auge do homem-arte!
De um túnel familiar e barulhento, expeli adagas austeras. Dei a cada uma delas o nome Augusta e um número de diferenciação, pois não mereciam o mel do meu nome, visto que haviam me ferido, mas ainda assim, permaneciam austeras.
Quando gritei o nome da mulher amada, me vi em um ovo. Quais seriam as quentes nádegas a me esquentar?
sábado, 3 de maio de 2008
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