sábado, 3 de maio de 2008

Roteiro.

Podre. Um quarto podre, maculado por quaisquer tipos de líquidos ou dejetos que podem ou não existir. No teto, bonecos dependurados por fios invisíveis esbanjam largos sorrisos e gotejam sangue por seus poros. As paredes estão cobertas por gravuras barrocas. Há no chão um imenso espelho que reflete algo senão o que de fato se vê.

UM CENÁRIO ONÍRICO! - Eu berro.

De fato, era mesmo um cenário deveras onírico. Minha conclusão óbvia me encheu de soberba e pompa, e desfilei como se fosse um rei francês cheio de afetos e acostumado com mimos, portando meu cetro de papel e exibindo minha coroa de mágoas veladas.

Os bonecos deram um veredicto peremptório:
-Farsante!
Sentir-me-ia ofendido, mas meu circunlóquio me parecia por demais cativante para considerar a vã reclamação da turba supliciada na forca. Eu falava, falava e falava um pouco mais, e era alta a minha voz. Minha boca ficou morna e minha língua sentiu o gosto de leite. Era materno, e saía da generosa teta da presunção. Quedei em posição fetal e beijei meu próprio rosto no espelho. Ó, elogio a si mesmo! Ó, auge do homem-arte!

De um túnel familiar e barulhento, expeli adagas austeras. Dei a cada uma delas o nome Augusta e um número de diferenciação, pois não mereciam o mel do meu nome, visto que haviam me ferido, mas ainda assim, permaneciam austeras.

Quando gritei o nome da mulher amada, me vi em um ovo. Quais seriam as quentes nádegas a me esquentar?

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