sábado, 21 de junho de 2008

Post Mortem.

Até mesmo as coisas mortas sentem vergonha quando seus túmulos têm epitáfios mal redigidos. Nobres, gentis, estóicos, elegantes; todos estão à mercê do ridículo que é ter a memória desonrada. Não há humilhação maior do que ser alvo de tamanha ofensa sem ao menos ter a possibilidade da resposta.

Pois sumam, mortos.

Enterre fundo aquilo que pode viver. Enterre antes mesmo que finde a vida. Não escolha um solo sagrado, não preste homenagens, não sinalize o local, não deixa nada ser reaproveitado. Guarde as preces para algo que não seja uma casca podre, ou faça uma oração para que o invólucro vazio não conheça outra vida além da que já teve. Não há de sobrar pó algum, tampouco lembrança.

Depois disso, caminhe como os que renegaram a memória, a morte e o passado. Olhos fixos no que vem adiante, passos que não conhecem meia volta nem produzem pegadas e suspiros de desprezo para os que teimam em despender talento e alma na inútil tarefa de redigir bons epitáfios.

Seis.

Na luz se revela
Tal qual um esboço opaco
A sombra mais bela

Três.

Breve e leve brisa
Vem e avisa se ela
Sabe ou quer voltar

terça-feira, 3 de junho de 2008

Releitura de How Soon Is Now - The Smiths.

Sou o filho único
E o herdeiro
De uma timidez mal-construída
Sou um fingido e herdeiro
De nada interessante

Cale minha boca
Para que eu nada diga
Sobre a minha inaptidão para qualquer coisa real
Sou humano e preciso de compaixão
Bem como os piores da espécie

Há uma boate que eu frequento
É lá que despejo minhas frustrações e renda
Apresento minha pequena peça
Recebo um aplauso solitário
Digo que não conheço o amor
E depois clamo por uma morte fácil

Veja, quando digo que é agora
Quero dizer que nunca será
Para os vazios não existe a espera
Apenas o prolongar da carne

Cale sua boca
E não diga nada
Sobre minha mágoa simulada
Sou humano e preciso trepar
Bem como qualquer um da espécie

-----------------//-----------------

http://www.davemcnally.com/lyrics/TheSmiths/HOWSOONISNOW.asp --> Letra original.

Essa música é o hino dos que banalizam a tristeza e fazem dela um veículo para realizar qualquer desejo menor e pouco importante. O cântico dos bebês presos em corpos adultos.