Até mesmo as coisas mortas sentem vergonha quando seus túmulos têm epitáfios mal redigidos. Nobres, gentis, estóicos, elegantes; todos estão à mercê do ridículo que é ter a memória desonrada. Não há humilhação maior do que ser alvo de tamanha ofensa sem ao menos ter a possibilidade da resposta.
Pois sumam, mortos.
Enterre fundo aquilo que pode viver. Enterre antes mesmo que finde a vida. Não escolha um solo sagrado, não preste homenagens, não sinalize o local, não deixa nada ser reaproveitado. Guarde as preces para algo que não seja uma casca podre, ou faça uma oração para que o invólucro vazio não conheça outra vida além da que já teve. Não há de sobrar pó algum, tampouco lembrança.
Depois disso, caminhe como os que renegaram a memória, a morte e o passado. Olhos fixos no que vem adiante, passos que não conhecem meia volta nem produzem pegadas e suspiros de desprezo para os que teimam em despender talento e alma na inútil tarefa de redigir bons epitáfios.
sábado, 21 de junho de 2008
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6 comentários:
nossa, Lucas. gosto das coisas que vc escreve. sério.
que tal o seguinte epitáfio:
morto heroicamente se sacrificando para salvar família de urso assassino
Cwazy http://creativecommons.org.br/
não sei se é inútil, sempre dá para fazer umas boas reflexões sobre a vida.
Tem uns que eu gosto, tipo: 'Nada somos e fomos mortais. Reflete, leitor, quão rapidamente do nada recaímos no nada' ou 'quem mijar ou cagar aqui tenha os deuses súperos e ínferos contra si'.
Qual a estação do haikai seis?
legal. tipo que a gente é que fica olhando pra trás. na verdade, a vida já nos disse bye-bye há muito tempo. eu gosto desta: viver é desenhar sem borracha.
saudades suas.
a morte demanda o silêncio da escrita. este silêncio que é, portanto, no seu grau ultimo: elevação até o estado gozante.não da pequena morte, mas da Grande: a que guarda a palavra matéria, apalavra em seu estado de realmente ser. o epitáfio é o silêncio da poesia.
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